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sexta-feira, 30 de março de 2012

# 26

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«escrevo barco e uma quilha fende o vastíssimo mar
e as árvores crescem dos espaços enevoados
entre olhar e olhar movem-se
animais presos à terra com suas plumagens de ferro
e de orvalho de ouro quando a lua se eclipsa
comunicando-lhes o cio e a nómada alegria de viver

penso outono ou inverno
e o lume resinoso dos pinhais escorre sobre o rosto
sobre o corpo em tímidos gestos
eis o tempo...»

de O Medo, Al Berto

[imagem: 2012 - Minolta Dimage Z3]

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quarta-feira, 28 de março de 2012

Fronteira Quase # 9

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«Tenho o cansaço antecipado do que não acharei,
E a saudade que sinto não é nem no passado nem no futuro.
Deixo escrita neste livro a imagem do meu desígnio morto:
Fui, como ervas, e não me arrancaram.»

Álvaro de Campos

[imagem: 2008]

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Fronteira Quase # 8

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[imagem: 2011 - Minolta Dimage Z3]

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segunda-feira, 26 de março de 2012

probabilidades # 2

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«el hombre no se parece a la lluvia
el hombre camina
piensa
y se multiplica

la lluvia
vive arriba
y baja y se retorna/

nosotros hablamos y morimos

la lluvia es otra cosa.»

Reynaldo Pérez Só


[composição: 2012 - Minolta Dimage Z3]

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sábado, 24 de março de 2012

# 25

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[imagem: 24.03.2012, Minolta Dimage Z3]

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quinta-feira, 22 de março de 2012

probabilidades # 1

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[composição: 2012/Minolta Dimage Z3]

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segunda-feira, 19 de março de 2012

Fronteira Quase #8

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«Nenhum mundo é meu.
Todos estão em mim desde que existo.

E a minha voz nasceu para falar do último,
Porque ele nunca existirá,
E é incrível que não haja fim.»

de Ocaso IV, Jorge de Sena


[imagem: 2012, Março - Minolta Dimage Z3]


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sábado, 17 de março de 2012

# 24

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[ausente/presente]




[imagem: 2009, Algarve - Imagem forçada na origem]
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sexta-feira, 16 de março de 2012

# 23

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«Na vertigem do oceano
vagueio
sou ave que com o seu voo
se embriaga
Atravesso o reverso do céu
e num instante
eleva-se o meu coração sem peso
Como a desamparada pluma
subo ao reino da inconstância
para alojar a palavra inquieta...»

de Trajecto, Mia Couto


[imagem: 2009, Algarve - Minolta Dimage Z3]

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quarta-feira, 14 de março de 2012

# 22

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«Era a verdade e a força do mar largo,
Cuja voz, quando se quebra, sobe,
Era o regresso sem fim e a claridade
Das praias onde a direito o vento corre.»

de Paisagem, Sophia de Mello Breyner Andresen


[imagem: 2009, Algarve - Minolta Dimage Z3]

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terça-feira, 13 de março de 2012

remembrance

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«as contas erradas
eram de vidro pano
frágil pedra de sal
terra plana inconcreta

da memória que já não é.
afinal era falha era geo
grafia da manhã.
já não é.

as contas erradas
antes de mais
de menos, de tudo eram
uma questão de sinal.»



[remembrance, tomás ketil]

[imagem: fotografia de escola, recolhida do meu album de memórias, 1976[?]]

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domingo, 11 de março de 2012

No Lapso do Tempo - 12

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«Perde-se o corpo na inabitada casa das palavras, nas suas caves, nos seus infindáveis corredores;
pudesse ele, o corpo, o que quer que o corpo seja,
na ausência das palavras calar-se.
Não, com nenhuma palavra abrirá a porta,
nem com silêncio, nem com nenhuma chave.»

[Manuel António Pina, extraído de entrevista ao Ipsilon, 17 Junho 2011]




[imagens: 2011, Minolta Dimage Z3]
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sexta-feira, 9 de março de 2012

No Lapso do Tempo - 11

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«São precisamente as perguntas para as quais não há resposta, que marcam os limites das possibilidades humanas e que traçam as fronteiras de nossa existência.»


de A insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera


[imagem: 2011, Minolta Dimage Z3]

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quarta-feira, 7 de março de 2012

Fronteira Quase #7

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«Uma certa quantidade de gente à procura
de gente à procura duma certa quantidade
(...)

E resulta que também estes andavam à procura
duma certa quantidade de gente
que saía à procura mas por outras bandas
bandas que por seu turno também procuravam imenso
um jeito certo de andar à procura deles
visto todos buscarem quem andasse
incautamente por ali a procurar»

de Uma certa quantidade, Mário Cesariny


[imagem: 2009, Bizarril, Colmeal - trabalho retocado em Corel PhotoPaint]

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terça-feira, 6 de março de 2012

Fronteira Quase #6

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«tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco»

de Em todas as ruas te encontro, Mário Cesariny


[imagem: 2008, Bizarril, Colmeal - trabalho retocado em Corel PhotoPaint]

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segunda-feira, 5 de março de 2012

167 Objectos Insignificantes - IX

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«Depois abriu a cristaleira e tirou os vidros todos cá para fora. Lavou e limpou copo por copo, olhando-se através da transparência. Muitos deles nunca tinham servido. Anos e anos ali dentro da cristaleira, alinhados nas prateleiras, passando de avó para mãe e da mãe para ela, sempre com a mesma recomendação: «cuidado, é cristal, e o cristal é muito frágil!». Lembra-se de há muitos anos, ela ainda era tão criança!, ter pedido à mãe para pôr os copos na mesa, de um dia em que havia festa, qual festa é que já não se recorda. Mas a mãe voltou a dizer: «o cristal é muito frágil, por isso estes copos não são para andar a uso». Engraçado. O cuidado que se tem com os objectos, com os copos de cristal, por exemplo, porque são frágeis, podem quebrar-se. E o pouco cuidado que se tem com as pessoas. Nunca se lembra de ter ouvido alguém dizer: «cuidado, é uma pessoa, e as pessoas são muito frágeis, e não podem andar a uso».»

em Às Dez a Porta Fecha, Alice Vieira


[imagem: 2012, Minolta Dimage Z3]

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sábado, 3 de março de 2012

Fronteira Quase #5

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«Guarda a manhã
Tudo o mais se pode tresmalhar

Porque tu és o meio da manhã
O ponto mais alto da luz
Em explosão»


Guarda a Manhã, Daniel Faria

[imagem: 2008, Bizarril, Colmeal - trabalho retocado em Corel PhotoPaint]

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sexta-feira, 2 de março de 2012

Fronteira Quase #4

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«para ecoar um silêncio
bastou gritarmo-nos para cá dentro
num gritar aprofundo.
já silenciar um eco
é missão para toda um vida:
exige repensação da própria existência.»

de Que sabes tu do eco do silêncio, Ondjaki


[imagem: 2008, Bizarril, Colmeal - trabalho retocado em Corel PhotoPaint]

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quinta-feira, 1 de março de 2012

Fronteira Quase #3

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«O que é o espaço
senão o intervalo
por onde
o pensamento desliza
imaginando imagens?»

de O que é o espaço, Ana Hatherly

[imagem: 2008, Bizarril, Colmeal - trabalho retocado em Corel PhotoPaint]

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